quando eu era pequena havia uma loja de massas na esquina da minha casa chamada suprema. um balcão simples expunha as massas frescas e prontas, e você escolhia ali o que queria levar. as senhorinhas atendentes trabalhavam lá desde sempre, e atrás do balcão havia uma enorme janela de vidro que dava pra cozinha. lá dentro dava pra ver as massas sendo preparadas em grandes balcões sujos de farinha e grandes panelas com água fervente. eu era pequenina e lembro de tudo numa proporção enorme. o cardápio devia ser extenso, mas lá em casa a gente só comprava duas coisas: pastéis e lasanha a bolonhesa. era como se o cardápio só tivesse isso. os pastéis eram pra tapear a fome e a lasanha era consumida nas travessas de alumínio mesmo, com um prato de papelão embaixo pra não sujar a mesa. era uma festa. era o almoço de domingo, e durante a semana em algumas exceções. a gente comeu isso durante anos e nunca ninguém se cansou.
eu lembro exatamente do sabor do molho branco daquela lasanha. e eu nunca comi nada igual, nem parecido. um dia a suprema fechou e virou uma farmácia. se você mora no rio de janeiro sabe bem o que é isso, o sentimento de tristeza profunda que proporciona. mais uma farmácia, como se já não bastasse de tantas farmácias nessa cidade. a suprema deixou um bairro de órfãos, e confesso que até hoje eu tenho uma raivinha daquela farmácia. um tempão depois eu soube que havia uma suprema em copabacana. eu fui lá um dia e pedi uma lasanha, me refastelei naquele molho branco e num pacotinho de pastel. isso pra mim se chama felicidade pura e aplicada. pois bem, a loja de copacabana também fechou. virou sei lá o que, talvez outra farmácia. antes de escrever esse post eu dei uma olhada rápida no google e achei uma suprema no leme. opa! enquanto eu escrevo e resgato todas essas lembranças felizes, minha vontade é passar lá hoje mesmo e pedir uma lasanha pequena pra viagem. mas ao mesmo tempo, tenho medo de comer uma lasanha porcaria e ficar arrasada. depois eu decido. mas o que eu queria mesmo era saber a receita daquele molho branco ahahhaha 🙂
mas vamos falar dessa lasanha de porco? a missão era cozinhar para 14 pessoas. a missão fazia parte de um encontro com o mesmo grupo de pessoas em que durante alguns meses uma pessoa cozinhava pro grupo. eu era a última, a décima refeição, e já havíamos comido um pouco de tudo, e eu já tinha cozinhado antes. e tudo maravilhoso, comida boa mesmo, encontros que duram horas e horas com todo mundo em volta da mesa enchendo a cara de comida boa e contando história. passei meses pensando no que eu ia fazer. minha idéia era comida caseira, meio de vó, meio de mãe, cheia de auto-indulgência, em proporções e travessas grandes, sem frescura, que ao mesmo tempo fosse um clássico e tivesse alta taxa de aceitação. olha, a lista foi grande… até o momento que eu lembrei do bendito molho branco da suprema. mais do que decidido, teremos lasanha pro almoço!! 🙂 lasanha cheia de amor, de tempero, de etapas, mas que depois vale cada mordida. <3
essa receita rendeu 3 travessas de lasanha para 14 pessoas. use as quantidades proporcionalmente de acordo com a sua necessidade 🙂
ingredientes para o recheio:
ingredientes para o recheio:
- 2kg de carne de porco moída (usei metade pernil e metade lombo)
- 3kg de tomate italiano ou debora
- um punhado grande e generoso de folhas de tomilho
- um punhado grande e generoso de folhas de manjericão
- uma cebola roxa grande
- duas cabeças de alho de alho
- 400ml de vinho tinto
- sal e pimenta moída na hora
- azeite extra-virgem
- 3 litros de leite integral
- 350g de manteiga sem sal
- 1 xícara e 2/3 de farinha de trigo
- sal e pimenta moída na hora
- noz-moscada
- 200g de parmesão ralado
- 500g de massa de lasanha